sábado, 20 de setembro de 2014

Essa costela é a minha?

Costela Amiga


Quando eu deixar este chão
eu vou de costela na mão
mal passada e gordurenta.
Eu quero chegar lá em cima
com graxa e farinha na venta
e o Santo que cuida o clima
com feixe de chaves na mão,
antes de abrir o portão,
vai gritar numa frestinha:
Essa costela é a minha?
Aí é que eu solto a voz:
É gorda! Eu trouxe pra nós!
Antes me faz um favor,
não conheço bem a casa,
vai no inferno e pega brasa
pra renovar o calor.
Carne fria e sem fumaça
perde a metade da graça
e quase todo sabor.

Moacyr Ayres da Siqueira

o "espírito jovem" permanece!

Ser Jovem


É viver sabiamente a flor da vida...
É valorizar a estrada construída
por uma juventude antecessora!...
É ver a velhice como professora
cansada, desgastada, mas prudente
que irradiará sabedoria eternamente
porque a matéria é fraca, cansa e desaparece
mas o "espírito jovem" permanece!

Moacyr Ayres da Siqueira

É que Deus ali... fazia-se presente!

NÃO VI... MAS LI



Eu li nas páginas de uma escritura
Que na terra viveu uma criatura
Que reimplantou orelha decepada;
Fez entrevado andar em disparada
E cego enxergar perfeitamente!
Não usava drogas nem suturas,
Fazia milagrosas curas
Mencionando um “Pai Onipotente”!...
É que Deus ali... fazia-se presente!

Na sua cotidiana lida,
Fez morto retornar à vida...
E os remédios?... Eram rezas e mais nada!
Andou sobre as águas como plena estrada
Apontando a fé por tal magia;
Transformou tempestade em calmaria
Num toque de magia inigualada
Mencionando um “Pai Onipotente”...
É que Deus ali fazia-se presente!

Eu li também sobre os pães que Ele aumentou,
Sobre a água pura que Ele transformou
Em vinho igualmente puro e saboroso!
Também curou os males de um leproso.
Eram milagres como de costume!
Num mar sem peixe fez brotar cardume
De grandeza estranha e diferente,
Sempre mencionando um “Pai Onipotente”
É que Deus ali... fazia-se presente!

Por que não seguirmos o mesmo caminho?...
Tirando d’alma a mais profunda prece,
Aumentando a parcela de carinho
Que minimiza a dor de quem padece!
Por que não transformarmos ódio em amor?...
Naquele feitio próprio do “Senhor”
Clamando pelo “Pai Onipotente”!...
Será um milagre certamente

Em que “Deus” ali... se fará presente!

Moacyr Ayres da Siqueira

Poesia publicada na Quarta Antologia da Academia Gaúcha dos Poetas de Cordel, Porto Alegre, 2014.

Vou triste, por não poder vencer tanta miséria

                  ASSIM  SOU  E  VOU  MORRER  ASSIM



Não peço a Deus fortuna ou coisa parecida!...
Só quero que me aponte os caminhos de uma vida
que me levem aos princípios sublimes do calor humano...
e que Deus, o Supremo “Pai Sagrado e Soberano,”
ensine-me a abraçar sem ódio um inimigo!
Eu quero passar nesta terra sob Seu abrigo
repartindo o pão com aqueles que têm fome;
perdoando os que me devem, em Seu nome
sem guardar ressentimento, ódio ou rancor.
O dia em que minh’alma deixar esta matéria
obedecendo o chamado derradeiro do Senhor,
não chorem nem lamentem quando eu for...
Vou triste, por não poder vencer tanta miséria
mas feliz por ter pregado tão somente paz e amor!
Embora não tenha vencido a surdez da humanidade,
meu grito derradeiro, certamente será de igualdade!


Moacyr Ayres da Siqueira


Poesia publicada na Quarta Antologia da Academia Gaúcha dos Poetas de Cordel, Porto Alegre, 2014.

Relembrar é necessário

À CASA DO POETA DE CANOAS



Ainda vibro quando lembro
o dezenove de setembro
em que esta casa nascia...
ajudei Dona Maria
a plantar esta semente
que hoje encanta a gente
com arte, canto e poesia!...
Que seja assim eternamente!

Relembrar é necessário
em se tratando de flores,
os Nobres Vereadores
nos deram de aniversário
um dia só para nós,
poetas aqui de canoas,
é das poucas coisas boas
que quase me embarga a voz!

Em prol desta data marcante
sonhamos com muita fé
sem acordar um instante!
Hoje sou um Sepé
bradando para os ateus;
não estamos no abandono,
esta data hoje tem dono!...
e este dono tem Deus!

E que Deus permaneça aqui
orientando a Luci
e sua equipe tão boa...
gente aguerrida e de proa
com a mesma raça e postura
no timão desta canoa
que o Pai Maior abençoa
por se tratar de cultura!

Falei à minha maneira
o que cabe para o momento,
são coisas do “Velho Siqueira”
externando o pensamento.


Moacyr Ayres da Siqueira  

        


Pronunciamento por ocasião do aniversário da Casa do Poeta de Canoas, feito na Câmara de Vereadores da cidade.

Eu quero voltar um passarinho

      O MEU RENASCER


Quando minh’alma ganhar a alforria
Desta matéria cansada, envelhecida...
E partir para viver em outra vida
Na qual eternamente será dia
Para esta alma que passa a ser gaudéria!...
Se eu tiver que reencarnar em outra matéria
E voltar novamente a este mundo...
Livre-me, Deus, deste “mundo imundo”,
De egoísmo, ódio e de miséria;
Banhado num pensar mesquinho!...

Eu quero voltar um passarinho
Que voa sem saber o que é trabalho!...
Destes que dormem em qualquer galho
Sem a preocupação, sequer, de fazer ninho,
Insensível às intempéries, ao frio e ao calor!
Não chorem nem lamentem quando eu for!...
Observem, num galho, quanta liberdade!...
Um pássaro a irradiar felicidade!...
E se neste galho houver uma pequena flor,

Certamente, será eu, em cânticos de paz e de amor!


Moacyr Ayres da Siqueira

Poesia publicada na Quarta Antologia da Academia Gaúcha dos Poetas de Cordel, Porto Alegre, 2014.

sábado, 13 de setembro de 2014

Sinto-me alvejado

               AMOR

Amor é guerra constante
Que domina a humanidade!...
E desde que o mundo é mundo
Há esta luta incessante
Que em clima conturbante
Não deu trégua um só segundo
A quem em sonho profundo
Procura felicidade!

Guerra ... em que o maior dos alvos
É o amor puro e sincero;
O maior dos objetivos!...
É quando me desespero
Em pleno campo de guerra,
Porque ninguém tomba em terra,
Todos saem sãos e salvos...
E quase sempre aumentam os vivos!

E por que sou condenado
Sem um justo julgamento?
Sou guerreiro no momento
E sinto-me alvejado!...
E se mulher é pecado,
Considero-me enquadrado
Neste crime rotineiro
E numa justiça falha!...

E como todo o bom guerreiro...
Morro em campo de batalha!!!

Moacyr Ayres da Siqueira


Pela vez primeira

MINHA ETERNA MUSA



Versejei ao ver-te pela vez primeira,
Exaltando apaixonado teus encantos...
E os sonhos de amores eram tantos
Que obrigaram-me a versejar a vida inteira!

Quando minha’alma não for mais prisioneira,
Liberta embora entre prantos...
Há de versejar causando espantos
A caminho da “casa derradeira”!

Se visitares minha tumba um dia,
Põe teu rosto encantador na terra fria
E te confundirás com muitas flores!...

Ouvirás, vindo da terra, a harmonia
Na minha voz  radiante de alegria,
Teu nome... entre versos de amores!

Moacyr Ayres da Siqueira


A menina que lia o jornal

      Educação à moda antiga



Tomei o metrô rumo à capital!...
Estava cheio, muita gente em pé...
Mas na juventude, ainda levo fé!
Confirma-se num gesto cordial
De uma menina que lia um jornal
Sentada na poltrona atravessada!...
Ofereceu-me seu lugar emocionada;
Hoje, gesto raro e descomunal!

Agradeci sua bondade e gentileza;
Recusei-me a ocupar o seu lugar!...
Papai ensinou-me a respeitar
Um grandioso ato de nobreza
Que toda e qualquer dama tem direito;
O da primazia!... o qual sigo orgulhoso!
Abrange os idosos este conceito!
Meu Deus, meu Deus.... será que sou idoso?

      Moacyr Ayres da Siqueira
      Matéria: 81 anos
      Espírito: 15 anos


Livro falante

O LIVRO  E  O  IDOSO



Livro... é fonte de luz da humanidade!...
Carrega consigo a propriedade
De armazenar idéias de toda natureza;
Das ínfimas às de maior grandeza...
Registra fórmulas sábias que constroem
Da mesma maneira que registra as que destroem.
Um velho livro será fonte polidora eternamente
Mostrando-nos o passado no presente!

Quanto mais antigo for o livro, mais interessante...
Mostra-nos a evolução clara e constante
Das coisas e do próprio ser humano...
Sem lapso, erro ou engano!
Com o idoso pouca coisa muda...
Quanto mais viver, mais ele estuda
Nesta grande faculdade que é a vida
E cada dia de vida é uma folha lida!

Antes do livro, os indígenas, o homem primitivo,
Cultuavam o velho como um grande arquivo
Recorrível a qualquer instante;
Era uma espécie de livro falante
Sempre a transbordar conhecimentos,
A irradiar sabedoria aos quatro ventos...
Os jovens os preservavam orgulhosos.
Cuidem bem... os livros e os idosos!

Moacyr Ayres da Siqueira



Conversando com o neto

                           A PRIMAVERA

                                         Conversando com meu neto Bruno

Cantam os pássaros ao amanhecer...
Flores desabrocham no jardim
Anunciando que o inverno teve fim
Fazendo a primavera renascer!

Invade meu quarto através da janela
O sol abrasante despertando-me mais cedo...
Ainda deitado escuto no arvoredo,
A passarada dizer que a primavera é bela!

Afinam-se as roupas de ir à escola...
Com a mesma alegria que canta a passarada,
A grande hora do recreio é esperada
A sonhar com refri, biscoito e bate-bola!

Por que existe inverno se o inverno é feio...
É frio, é chuva e o vento ruge nos moldes de fera
Estragando impiedosamente a hora do recreio?
Por que não existe somente primavera?

Moacyr Ayres da Siqueira

sábado, 6 de setembro de 2014

Olhos como diamantes


     ADEUS  que não ganhei

Adentraste em minha vida num sorriso.
Teus olhos brilhavam como diamantes...
nossos corações pulsavam inquietantes
com a alegria de quem cai num paraíso!

Sorrias muito... era preciso,
para sufocar as gargalhadas extravagantes
que bem cabiam naqueles instantes
que o destino nos deu de improviso!

Foram beijos e abraços a vida inteira!...
Com sonhos sonhados da mesma maneira
e com teus olhos sendo a luz dos meus!...

Porque partiste assim tão de repente?...
Negando-me um abraço ou um beijo ardente...
E sem ao menos dizer-me um Adeus!

Moacyr Ayres da Siqueira

A Professora Dinorá

À  Minha Professorinha


Aprender... é abraçar de corpo e alma ensinamentos!
Ensinar... é o dom divino que te leva em frente!...
Que te permite transmitir conhecimentos
e irradiar sabedoria eternamente!

Aprender... é colher idéias, pensamentos
e cultivá-los em frasco transparente!
Ensinar... é exibir tal frasco aos quatro ventos...
é o transplante que se faz da própria mente!

É sagrado o dom que te domina !
O Mestre Soberano te ensina
o que jamais aprenderás na faculdade!...

E brota no meu peito a esperança,
de que verás o mundo inteiro uma criança
para uma aula de paz à humanidade!


Moacyr Ayres da Siqueira


Eu conheci uma menina que o primeiro brinquedo era a escolinha e ela professora. Cresceu. Fez o magistério, continuou ensinando de dia e fazendo a faculdade à noite. Num belo dia me comunicou sua formatura e eu perguntei para ela o que desejava de presente: o anel ou uma poesia? Ela escolheu a poesia. Eu dei a poesia, o anel e a festa. É desnecessário dizer que a menina era minha filha. A professora Dinorá.

80 Anos

80 anos do Hugo Ayres da Siqueira


Irmãos criados do mesmo jeito,
mamando no mesmo peito
e dormindo na mesma tarimba;
com água da mesma cacimba
e portando o mesmo defeito;
defeito de qualidade...
o de adorar o direito
e amar a honestidade!
Banhados na mesma sanga
sem pensar que o tempo passa
matando o tempo na raça
arrastando a mesma canga! 

Com o espinafre da Angelita;
o caruru da vovó Rita
era uma batalha feia...
com carne e pão da “cadeia”
e os cadernos do Padre Pio
o saber nunca fugiu
da mente da gurizada!...
Hoje choro e dou risada
no meu viver macanudo
do guri que tem de tudo
e não consegue aprender nada!
A vida é mesmo engraçada!

A vovó era divina,
talhada pra medicina
aplicava o que sabia;
se um  neto as vezes tossia
fazia uma xaropada
que até quem não tinha nada
tomava e dava risada!
Para garganta irritada
não tinha estas drogas modernas;
prendia a cabeça entre as pernas
e não deixava sequela,
com um pincel pintava a goela
com uma tinta azulada
e a praga estava curada!

No mesmo sistema, um purgante
nos dava de quando em quando...
Para que fosse afastando
o gosto repugnante,
usava uma ideia divina:
uma pedra de açúcar-usina.
Dores nas costas ou no peito,
a vovó era jeitosa:
aplicava uma ventosa;
tratamento de respeito.
A vovó era divina!...
Febre era um chá de quina;
se forte, com aspirina,
e media com a mão na testa...
quando baixava, que festa!

E presente de natal?...
Era uma luta fatal
num burburinho no hospital
ou no corpo de bombeiro!...
Em um tremendo entrevero;
criança passando mal;
um griteiro infernal
e a gente firme porque
sempre vinha um bilboquê
para a alegria do povo!...
E uma pintada na mão
à prova de água e sabão
para não ganhar de novo!

Hoje o Hugo faz oitenta
nesta vida truculenta
o que  me deixa feliz!...
Oitenta também já fiz
nesta vida passageira!
É pedido que te faço:
aceita um forte abraço
que paleta alguma aguenta
alusivo a teus oitenta
que te passo no momento;
são coisas do Velho Siqueira
externando o pensamento!
                  Moacyr Ayres da Siqueira
06-8-2014