80 anos do
Hugo Ayres da Siqueira
Irmãos criados do mesmo jeito,
mamando no mesmo peito
e dormindo na mesma tarimba;
com água da mesma cacimba
e portando o mesmo defeito;
defeito de qualidade...
o de adorar o direito
e amar a honestidade!
Banhados na mesma sanga
sem pensar que o tempo passa
matando o tempo na raça
arrastando a mesma canga!
Com o espinafre da Angelita;
o caruru da vovó Rita
era uma batalha feia...
com carne e pão da “cadeia”
e os cadernos do Padre Pio
o saber nunca fugiu
da mente da gurizada!...
Hoje choro e dou risada
no meu viver macanudo
do guri que tem de tudo
e não consegue aprender nada!
A vida é mesmo engraçada!
A vovó era divina,
talhada pra medicina
aplicava o que sabia;
se um neto as vezes
tossia
fazia uma xaropada
que até quem não tinha nada
tomava e dava risada!
Para garganta irritada
não tinha estas drogas modernas;
prendia a cabeça entre as pernas
e não deixava sequela,
com um pincel pintava a goela
com uma tinta azulada
e a praga estava curada!
No mesmo sistema, um purgante
nos dava de quando em quando...
Para que fosse afastando
o gosto repugnante,
usava uma ideia divina:
uma pedra de açúcar-usina.
Dores nas costas ou no peito,
a vovó era jeitosa:
aplicava uma ventosa;
tratamento de respeito.
A vovó era divina!...
Febre era um chá de quina;
se forte, com aspirina,
e media com a mão na testa...
quando baixava, que festa!
E presente de natal?...
Era uma luta fatal
num burburinho no hospital
ou no corpo de bombeiro!...
Em um tremendo entrevero;
criança passando mal;
um griteiro infernal
e a gente firme porque
sempre vinha um bilboquê
para a alegria do povo!...
E uma pintada na mão
à prova de água e sabão
para não ganhar de novo!
Hoje o Hugo faz oitenta
nesta vida truculenta
o que me deixa
feliz!...
Oitenta também já fiz
nesta vida passageira!
É pedido que te faço:
aceita um forte abraço
que paleta alguma aguenta
alusivo a teus oitenta
que te passo no momento;
são coisas do Velho Siqueira
externando o pensamento!
Moacyr Ayres da Siqueira
06-8-2014
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