quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Era assim a professora do Amadeu

Coisas da Picuxa



É notório meu sistema
de começar um poema
com termos de povoeiro...
é que trato o dia inteiro
com gente de muito estudo,
gente que porta canudo
conquistado em faculdade,
daí a necessidade
de afinar meu palavreado!


Mas nunca termino assim,
sempre do meio pra o fim
eu vacilo e deixo furo!...
Brota em mim o “pelo duro”,
pampeano, original,
que se mata e não se afina,
e falando ao natural
faço um verso “bem bagual”,
xucro da cola à crina!


Sou bem cru, não fui polido...
mas sendo demais vivido
não encontro o que  me “enrasque”,
eu leio, preparo um xasque
e muito polido  estranha
este feitio de poeta
que consegui na campanha
numa escolinha gaúcha
aprendendo na “seleta”
da professora Picuxa.


Trago vivo na memória
o ranger dos seus chinelos,
o bolo da palmatória
e uma vara de marmelo
que clareava a inteligência
e botava o quebra no eixo
se as vezes torço o queixo
em direção da querência
num  linguajar de estância,
perdoem os da cidade
é um relincho de saudade
lembrando a felicidade
que vivi na minha infância!

                                    Moacyr Ayres da Siqueira

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